domingo, 30 de novembro de 2014

Claudia & Seus Louros – Folha de S.Paulo, 19 de julho de 1971






“CLAUDIA traz louros da GRECIA, como lhe compete...”

E Claudia trará louros da Grécia (que é mesmo o lugar onde se deve colhê-los). Fez vencedora a canção de Paulo e Marcos Vale na IV Olimpiada da Canção daquele país, Minha Voz Virá do Sul da América. E como se tal proza fosse pouca, tambem ganhou o primeiro lugar, como interprete.

Desde que vi Claudia sentada no banco dos réus daquele programa Quem Tem Mêdo da Verdade, em que foi acusada de falta de gosto total: no cantar, no repertório, no vestir, gostei do seu jeito encolhido e medroso de gatinho de telhado. Mas suas respostas foram nítidas e não demonstraram nenhum medo. Havia uma dignidade, talvez desconhecida dela propria, em sua maneira de se manter calma, sentada, poucas vezes sorrindo, ouvindo as provocações. E quando lhe pediram que cantasse, foi a primeira vez que eu propria a ouvi cantar. Parece que, até então, algumas emissoras estariam de marcação com ela. Ouvindo sua voz se desdobrar em meio ao cerco hostil do júri, vi que a menina tinha a garra. Depois, a moça cantou em muitos programas. E o público sempre sente o recado que ela manda. Só em sua terra é que ela não mereceu premio. Foi minha candidata para o Disco do Mês Excelsior, mas meus colegas achavam que o Jesus Cristo de Maria Bethania era melhor, embora o proprio autor, Roberto Carlos, achasse a interpretação de Claudia superior à de seu criador... Vi, tambem, que a moça era uma artista, uma profissional de gabarito e não uma amadora como essas fugidas atrizes que surgem e desaparecem nos céus das emissoras, quando critiquei seus gestos ao interpretar a canção de RC. Enquanto a voz era religiosa, o corpo era erótico, não de um Eros de Amor... E Claudia quando voltou a cantar, mostrou que aceitou a critica. Teve gestos comedidos, dignos, solenes que rimavam com a melodia. Por toda uma soma de acontecimentos, incidentes, comportamentos, vitorias, a jovem está indicando que segue o caminho certo, o que lhe dará um merecido troféu em sua terra, quando duas vezes já venceu, fora deis...

(Matéria publicada originalmente no jornal Folha de S.Paulo, 19  de julho de 1971)

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